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quinta-feira, setembro 25, 2008

corrupio (Pt. e Br.); corrúpio (Gz. e Br.)

"corrupio" (subst.) é o mesmo que "roda-viva", "atividade frenética"; "stresse" (fig.); "volta", "vira-volta"; "afã", "azáfama"; "dança" (fig.); brincadeira em que se formam pares que, de mãos dadas e com os braços esticados, jogam o corpo para trás, rodando em conjunto o mais rápido que podem (Pt. e Br.); brinquedo formado por uma haste de pau, onde se fixam hélices de papel ou de penas que giram com o vento;


"corrúpio" (Gz.): brinquedo formado por uma peça de barro com dois buracos pelos quais entram dois fios que puxados a põem em movimento (Gz.).
"corrúpio" (adj.): "cruel", "perverso"; "ferrenho", "feroz", "empedernido" (Gz. e Br.).


e aqui vai um extrato de um textinho de Rubem Alves, psicanalista-escritor, sobre corrupios:

abri o meu baú de brinquedos. piões, corrupios, bilboquês, iô-iôs e uma infinidade de outros brinquedos que não têm nome. seria indigno que eu levasse piões e não soubesse rodá-los. peguei um pião e uma fieira e fui praticar. estava rodando o pião no meu jardim quando um cliente chegou. olhou-me espantado. ele não imaginava que psicanalistas rodassem piões. psicanalista é pessoa séria, ser do dever. pião é coisa de criança, ser do prazer. acho que meus colegas psicanalistas concordariam com meu paciente. a teoria diz que um cliente nada deve saber da vida do psicanalista. o psicanalista deve ser apenas um espaço vazio, tela onde o paciente projeta suas identificações. mas a minha vocação é a heresia. ando na direção contrária. "você sabe rodar piões?", eu perguntei. ele não sabia. acho que ficou com inveja. a sessão de terapia foi sobre isso. e ele me disse que um dos seus maiores problemas era o medo do ridículo. crianças são ridículas. adultos não são ridículos. aí conversamos sobre uma coisa sobre a qual eu nunca havia pensado: que, talvez, uma das funções da terapia seja fazer com que as pessoas não tenham medo das coisas que os "outros" definem como ridículo. quem não tem medo do ridículo está livre do olhar dos outros.

(in: Correio Popular, de Campinas, SP, Br.).

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