escritas e falares da nossa língua


segunda-feira, fevereiro 27, 2012

ver juristas discutindo ortografia...

ver juristas a discutir Acordos Ortográficos...que mais irá acontecer?...será que a norma de 1911, adotada unilateralmente por Portugal, não terá por aí algum viciozinho jurídico que se possa aproveitar? a norma de Camões tem de certeza: é o vício da caducidade do efeito...


por mim, tenho-me esquecido sistematicamente de apreciar a questão do ponto de vista psiquiátrico. mea culpa…
mas, pronto, cá vai. mais vale tarde que nunca.


aceitei o meu próprio repto de analisar a questão do Acordo Ortográfico do ponto de vista da psiquiatria, sobretudo e agora a questão de se ser contra o dito Acordo. há, basicamente, cinco a seis grandes quadros que podem justificar uma tal posição, sendo certo que ninguém até agora argumentou nada que jeito tenha para se ser contra. os primeiros dois quadros clínicos caraterizam-se pela incapacidade de compreender a questão, o seu âmbito e o seu alcance. e aí entram os casos de debilidade mental congénita, de vários graus, e de demência moderada a grave. o terceiro quadro clínico diz respeito a uma intolerância perante a autoridade, no caso as Academias e o poder político. e aqui pontuam os casos de grave distúrbio da personalidade, disfarçada sob o manto das palavras "teimosia" e "obstinação". ainda dentro das personalidades desviantes, podemos considerar os dubitativos, inseguros, incapazes de decidir, sempre com um pé lá e outro cá, mas que, pelo sim pelo não, ficam no contra. o quarto quadro clínico diz respeito às fases maníacas da perturbação bipolar, durante as quais a pessoa se julga a maior, a mais sábia e a única que tem razão. e quando a mania é crónica não sai dessa postura perante o mundo e as coisas. é o único que sabe, e pronto. logo, são todos burros, dos académicos aos políticos, menos a pessoa doente, claro. e temos o quinto e sexto quadros, aqueles que mais preocupam e baralham os terapeutas. trata-se daqueles distúrbios psiquiátricos caraterizados por uma inversão da ordem natural das causas e efeitos, uma visão ptolomaica do universo, neste caso do universo da Língua, segundo a qual é o sol (o mundo) que deve girar à nossa volta e não nós (a terra) que devemos girar à volta do sol. assim sendo, segundo esta visão, tem de haver algo no mundo, neste ou qualquer outro, que tem por único lema e função fazer-nos mal, prejudicar-nos e até eliminar-nos. trata-se, já adivinharam, da visão paranoica, que pode ser irrepreensivelmente racional e aparentar uma total normalidade cognitiva (paranoia), ou, então, pejada de seres míticos, magias e conspirações, duendes, implantes de chips, extraterrestres e bruxas más (esquizofrenia).
uso apenas de um direito igual. se um jurista, bioquímico, economista, mecânico ou vendedor de pizzas acha que deve argumentar ortografia em função da sua formação profissional, por que não hei de eu achar que o posso fazer? a única diferença é o "parti pris": se eles partirem da posição de "contra" porque sim, partindo eu da posição oposta, concluirão eles sempre o contrário de mim.


PS: bom, é claro que uma abordagem psiquiátrica da questão tem um contra: pode ser contestada e rebatida por outro psiquiatra. mas o mesmo acontece com qualquer outra abordagem, seja ela linguística, ou jurídica, ou de qualquer outra sapiência.


1 Comments:

  • uns comentários que por aqui andaram demonstram que os adversários da nova ortografia não compreendem três coisas:

    1º - que este texto é uma charge, uma ironia, se quiserem uma sátira, tão bom ou tão mau como aqueles que se baseiam em argumentos jurídicos, literários, filosóficos ou linguísticos, dado que uma norma ortográfica não tem nada que ver com nenhuma destas sabedorias, mas é, essencialmente, um ato de política da Língua;
    2º - que as regras de boa educação são para ser respeitadas quer pelos apoiantes quer pelos opositores;
    3º - que este espaço é meu e faço dele o que bem entender, incluindo abrir ou fechar a porta.

    By Blogger josé cunha-oliveira, at 1:11 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home