escritas e falares da nossa língua


terça-feira, novembro 27, 2007

adeus, mãe

quem é que estava à espera disto?
bem sei que a lei da vida é cruel e cega.
não vamos esquecer-te.
adeus, mãe.

sexta-feira, novembro 16, 2007

a faculdade saloia

na dita capital de Portugal, há uma Universidade em que o Conselho Científico de uma das suas Faculdades reúne em Inglês. de pouco importa que em Portugal se fale Português e que, por sinal, o Português seja, até, a língua oficial do País e da República. para aqueles doutos exemplares do saloiismo científico, o Inglês é a língua adequada por excelência para veicular as suas inatingíveis produções mentais. creio até que a rara inteligência daquelas criaturas se expande e multiplica pelo simples facto de se exprimir em Inglês. e sou levado a concluir que aquela gente acredita que as leis do universo, da Economia à Química, estão escritas em Inglês desde o princípio dos tempos.
na capital do Zimbabwe, os Conselhos Científicos tamém reúnem em Inglês. os doutos crânios produzidos no Zimbabwe não conseguiriam exprimir em nenhum dos dialectos bantos tudo quanto lhes sai de genial pelos neurónios fora. vai daí, tal como na dita capital de Portugal, reúnem em Inglês tamém.
uma pequena diferença: por razões do seu passado colonial, o Inglês é língua oficial no Zimbabwe.

quarta-feira, novembro 14, 2007

eu quero esclarecer

o bloguinho da Thé refere-se a Escritas e Falares da Nossa Língua como "um blog com algumas diferenças entre o português lusitano, brasileiro e o galego". ainda bem que a Thé falou. eu quero esclarecer essa pequena confusão: este blogue trata da Língua Galego-Luso-Brasileira (sem subterfúgios: o Português - enquanto não tiver outro nome) numa perspectiva bastante diferente.
aqui preza-se a unidade, recupera-se o conhecimento mútuo e tenta-se demonstrar que as diferenças são artificiais. políticas. e, em alguns casos, tribais.
Escritas e Falares da Nossa Língua quer, tão só, prestar um serviço a uma Língua que pode e deve ter um papel cimeiro no contexto mundial.
obrigado, Thé, pela menção deste blogue. e pela oportunidade que me deu de esclarecer esse ponto.

terça-feira, novembro 13, 2007

broa

a ver se nos ajuntamos aqui ao redor desta broa.
"broa" (subst. fem.) é um pão grosseiro, de côdea dura, feito de milho ou de centeio, com o diâmetro de um palmo, mais cousa menos cousa. vai muito bem com sardinha e vinho do bom.

quinta-feira, novembro 08, 2007

a canalha

"canalha" (subst.) tem na Galiza e no Norte de Portugal o significado de "miudagem", "gente miúda", "criançada": a canalha, a canalhada.
pode ter um significado depreciativo: "os miúdos da rua".
num uso mais erudito (por influência do francês canaille?), "canalha" é tamém adjectivo: "mau carácter", "sacana", "má-índole", "sem-princípios", "sem-escrúpulos".

quarta-feira, novembro 07, 2007

o Uruguai e a Língua Portuguesa

no Uruguai passa a ser obrigatório o ensino da Língua Portuguesa a partir do 6º ano de escolaridade, já no próximo ano letivo de 2008. o facto é a consequência lógica da criação do Mercosul e do peso económico e cultural do Brasil nesse Mercado.
já tive eu mesmo ocasião de constatar no Chile e na Argentina a relativa facilidade com que se encontra alguém que fale Português. aprendido no Brasil ou por causa do Brasil. essa realidade económica transnacional originou já um aumento em flecha da procura do ensino e da prática da Língua Portuguesa no Paraguai, na Argentina, no Uruguai e até no Chile, pelo que a medida do Governo Uruguaio consiste, simplesmente, em obrigar a comer quem já tem fome que chegue.
por muito menos estamos nós a ensinar Inglês aos putos assim que consigam pronunciar os éles e os érres.
é a altura de percebermos o que se passa no Mundo. não são os nossos semi-dialetos peninsulares e suas variantes, tribalidades e teimas, não é sequer essa algaravia que se fala em Lisboa - mistura de gramática inglesa com palavras da Academia e pronúncia checa - que farão o futuro da Língua no Mundo.
por isso me daria uma incontrolável vontade de rir que alguns professores de Português, dessa espécie de língua que se fala em Lisboa, achassem que a decisão do Uruguai é uma oportunidade de emprego.
e antes do mais porque professores de Língua Portuguesa já o Uruguai tem. e nas zonas fronteiriças com o Brasil tem até falantes de Português como língua materna, que aí passa a ser reconhecida como língua principal, à frente do Castelhano.

terça-feira, novembro 06, 2007

o caralho (*)

o caralho é a palavra mais galego-portuguesa. vulgar, gratuita, com ou sem sentido, pensada ou compulsiva, amiga ou ofensiva, pornográfica ou erótica, o caralho ocupa mais de um quinto do falar de portugueses e galegos. não há palavra mais ampla, mais etérea, mais inútil nem mais oportuna.
mesmo quando é substituída pelo carago, o caramba, o caraças, o catrino, ela está lá: é insubstituível.
não pode é encolher com diminutivos. o caralhinho é a negação completa do caralho.
se uma coisa é grande, é grande como o caralho. se pesa, é pesada como o caralho. se está longe ou em sítio incerto, está em casa do caralho. se me chateio com alguém, mando esse alguém pró caralho. se me apetece explodir, grito: - caralho!
implica uma certa intimidade, pois não se diz caralho ao rei nem à princesa. nem junto do ministro nem ao pé do presidente. nem perto de senhoras nem ao pé de cavalheiros. só entre amigos. dizer caralho significa que estamos à vontade, em casa, eu contigo, tu comigo, entre nós.
já era tempo de entrar na literatura, caralho!

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"caralho" (subst.) significa "o órgão sexual masculino", a peça de cerâmica característica das Caldas da Rainha, o doce do São Gonçalinho de Amarante. é também alguém de quem se tem pouca conta: "aquele caralho...", "saíste-me um caralho". nos poucos dicionários que lhe dão entrada, o caralho sai capado, eunuco: "pénis", "membro viril". apenas. e é pena. porque um caralho só é caralho com eles no sítio.

cueiro (Pt. e Gz.)

"cueiro" (subst.) significa, à letra, o pano que cobre o cu, "fralda" (das crianças).
usa-se mais no plural e em expressões idiomáticas, como:
"deixar os cueiros" - abandonar os hábitos de criança;
"ainda cheiras a cueiros" - ainda és muito novinho(a);
"não estou para mudar cueiros a meninos" - não quero nada com quem se mostra demasiado inexperiente ou infantil.