escritas e falares da nossa língua


domingo, março 30, 2008

migalha

"migalha" (subst. fem.) significa "coisa pequena", "fragmento muito pequeno de pão", "frangulha" (Gz.).
é claro que neste mundo uns comem o pão e outros as migalhas. e outros nem as migalhas comem.
de coisa tão miúda ainda se consegue encontrar um diminutivo: "migalhinha"

frangulha (Gz.)

"frangulha" (subst. fem.) significa "migalha", "fragmento muito pequeno de pão", "porção minúscula de alguma coisa".
graf. altern.: "frangulla".
existe o diminutivo "frangulhinha" para frangulhas muito pequenininhas.
variante: "faragulha". graf. altern.:"faragulla". ver Comentº de Compostela Dailyphoto.
a faragulhação da Língua é um risco que os falantes deviam temer.

debicar

"debicar" (verb.) é o mesmo que "comer pouco", "provar aqui e ali a comida", "comer bocadinhos de um ou mais pratos de comida".
mais próprio das senhoras com a mania das gorduras e do colesterol, que vão debicando sempre enquanto falam dos malefícios do que comem.

sexta-feira, março 28, 2008

seica (Gz.)

"seica" é um daqueles advérbios tipicamente galegos, embora não tanto quanto isso. se usarmos aquela expressão dubitativa sei que (ou seique?...), usada no Norte de Portugal, chegamos ao "seica" com aquela naturalidade que nos une.
"seica" significa "talvez", "creio que...", "quem sabe...", "sei que..."

o Comentário de Calidonia explica tudo em duas palavras...

quinta-feira, março 27, 2008

ponher (Gz.)

"ponher" (verb.) é variante de "pôr", verbo que está sistematicamente sendo arredado das falas e das escritas "bem", em troca pelo adocicado verbo "colocar". que não é a mesma coisa.
por mim raramente "coloco", quase sempre "ponho". é demasiado delicado, queque mesmo, colocar onde apenas há que pôr. gosto do "ponher". está presente nas flexões do verbo "pôr": "eu ponho", "eu punha, tu punhas, ele punha". e se eu "punhesse" alguma coisa cando andava na escola, chamavam-me labrego e cousas piores. coitados!
mas já nem o "pôr" lhes serve. agora é "colocar".
espero não ter que vir um dia a aturar o espetáculo do "colocar do sol" ou assistir à cena das galinhas "colocando" o ovo.

graf. altern.: "poñer"

recuncho (Gz.)

"recuncho" (subst.) significa "recanto", "cantinho", "refúgio", "esconderijo", "lugar recatado".
diminut.: "recunchinho". graf. altern.: "recunchiño".

ver achega de Calidonia

domingo, março 23, 2008

chuço

"chuço" (subst.) significa "espeto" (do jogo do espeto ou do chuço), "alfaia ou instrumento aguçado, de madeira ou de ferro".
ao diabo é costume botar-lhe um chuço na mão, com o que se divertiria a infernizar as almas dos pobres pecadores. custa-me a crer. afinal, os pecadores só fazem o que o diabo quer. por que haveria o diabo de tratá-los mal - e à chuçada?

sexta-feira, março 21, 2008

galhofa

"galhofa" (subst.) significa "risada", "alegria", "fanfarronice", "gozação"., "brincadeira ruidosa".
variante "galhoufa" (Gz.).

chuçar

"chuçar" (verb.) significa "espetar", "cravar", "picar", "enfiar um pau ou uma palha na entrada de uma toca para fazer sair o bicho (o grilo, por exº)". ver Comentº de Fer.

cando íamos ós grilos e botávamos a palheira na toca para o fazer sair, era costume cantar uma lenga-lenga:

"grilinho sai sai,
teu pai à porta,
ladrões na horta,
c'uma faca de agulhão
que te fura o coração".

e se o bicho não falava a nossa língua ou teimava em não sair, era vencido finalmente com uma mijada na toca.


graf. altern. (Gz.): "chuzar".


quarta-feira, março 19, 2008

sapateiro

"sapateiro" (subst.) é "o que conserta sapatos", e ainda "o que vende sapatos".
também é (adj.) "alguém que faz o que não sabe fazer", o "remendão", "o que não faz nada direito", "o incompetente". do qual de diz "não vá o sapateiro além da chinela" ou "quem manda o sapateiro tocar rabecão?" ou, também, em tom de crítica, "quem foi o sapateiro que fez este lindo serviço?"

no séc. XVI, no período de decadência social, económica e dinástica de Portugal, um sapateiro de Trancoso, Gonçalo Anes Bandarra, ficaria célebre pelas suas trovas e profecias, que entraram para o acervo das ideias sebastiânicas de restauração da grandeza da Pátria.


é ainda (zool.) um inseto aquático muito conhecido que tira partido da tensão superficial para se mover com grande facilidade à tona da água. é tamém chamado "alfaiate", "pita cega", "cabra" e "cabra cega" (Comentº de Calidonia).


(imagem retirada de Made in Galiza, cdv)


polinheira



teria eu três ou quatro anos, um primo do Porto foi passar uns dias a nossa casa. e a primeira pergunta que fez foi:

- aqui quem é que bate? em minha casa bate o meu pai, a minha mãe e a tia Ermelinda quando lá vai....

velhos tempos, diferentes costumes.


"polinheira" (subst. fem.) significa "tareia", "tunda", "sova", "coça", habitualmente com uma vara ou fustiga.
era uma palavra muito usada (e muito posta em prática...) no Entre-Douro-e-Minho.
não me posso queixar muito, portava-me relativamente bem.

terça-feira, março 18, 2008

pito

"pito" (subst.) significa "frango", "galito", "a cria da galinha", "pinto".
pelo menos em Portugal, significa tamém a "vulva", "genitais femininos".

femin.: "pita": "galinha", "franga", "mulher jovem"
diminut. "pitinha", "pitinho".



tenho pena que tenha desaparecido o blogue (Gz.) "a vida de um inocente pitiño". o título é uma pequena delícia.

poleiro

"poleiro" (subst.), de "polo" (galo, frango), é o "galinheiro" ou "piteira"; é também a "vara ou travessa que se arma nas gaiolas e galinheiros para pouso das aves"; "lugar elevado, de influência e de poder".

o "poleiro" é um lugar de quem todo o mundo diz mal quando não está nele, mas que toda a gente procura alcançar quando não o tem - ainda que hoje em dia seja um lugar perigoso: a atração pelo poleiro tem sido pra muitos o mesmo que a atração pelo abismo.

espolinhar (Pt.n, Gz,)

"espolinhar(-se)" (verb. refl.) significa "revolver(-se) no chão", "contorcer(-se) como quem se espreguiça", "brincar no chão revolvendo-se" (as crianças).
devo dizer que não era mau de todo e que tenho saudades do tempo em que me podia espolinhar.

segunda-feira, março 17, 2008

a nova ortografia

parece-me a mim que haver um acordo ortográfico será boa coisa, pois que defende uma política da Língua a nível mundial. parece-me a mim que abolir as consoantes surdas, como os "c" e os "p" será boa coisa, pois que faz com que a escrita traduza mais fielmente a fala. parece-me tão claramente bem, que pasmo ante a palermice pseudo-intelectual de quem acha que um Acordo Ortográfico é matéria anti-constitucional ou de lesa-soberania.
parece-me tão claramente bem, que fico estantío ante as delongas, fraquezas e burocracias que atrasaram vinte anos a vigência da nova ortografia decorrente da nossa assinatura do Acordo.
e não sei que pense de quem, tudo tendo feito para o atrasar e dificultar, venha agora trazer a terreiro o argumento de que o Acordo vem tarde e a desoras.
é que eu gostava de viver num país inteligente. gostava de viver num país que não fosse tão mesquinho, tão tribal e tão histericamente dialetal.
é que eu sempre pensei que a Nossa Língua não se fala, não se escreve nem se edita apenas em Lisboa. perdão: apenas na Lisboa pseudo-intelectual de certas faculdades de Letras, isto é, de certas editoras.
portugueses, brasileiros, galegos, africanos, timorenses, estrangeiros lusófilos, nós todos, precisamos de uma Língua forte, universal, diversa, rica, mas de fileiras cerradas naquilo que nos une.
não serão uns vendilhões de livros, doutorecos de merda, que nos irão barrar o caminho da unidade. a língua é nossa, não é deles.
prá frente com a nova ortografia!
como diz o Povo, "vale mais tarde do que nunca".

domingo, março 16, 2008

loja

quando eu era pequenito, havia ao lado da casa da minha avó materna uma mercearia, aquilo a que hoje se chama um mini-mercado.
tal como acontecia na família da minha mãe, o dono da loja tinha relações próximas com o Brasil e trouxera de lá um papagaio bem treinado.
assim que alguém se chegava pra entrar no estabelecimento, logo o louro palrava, alto e bom som:
- ó António, anda à loja!
o António vinha, aviava o cliente, e assim que o cliente tinha a compra na mão, logo o papagaio refilava:
- pagar que não esqueça!

hoje, por influência castelhana, os galegos usam mais o termo "tenda". ver Comentário de Maria B.

"loja" (subst. fem.) significa "estabelecimento de comércio"; "parte baixa da casa destinada a armazém e arrumos"; "cada uma das associações maçónicas de base"

há tamém a variante "loje", de uso popular.

laje

"laje" ou "lage" (*) (subst. fem.) significa "pedra grande e lisa", "pedra lisa com que se recobrem os pavimentos", "penedo com uma face lisa".

graf. altern. (Gz.): "laxe".


(*) as duas grafias alternam na toponímia portuguesa

pendericos (Gz.)

"pendericos" (subst. plur.) significa "penduricalhos", "coisas que se traz penduradas, como condecorações, medalhas, pechisbeque".
posto que somos gente de pendericos ou penduricalhos, cuido que quem usa o termo seja uma minoria resistente.

pendor

"pendor" (subst.) significa "propensão", "tendência"; "cariz"; "declive".

quinta-feira, março 06, 2008

a bota e a perdigota

"não bate a bota com a perdigota" significa que "não bate certo", que "não condiz uma cousa coa outra". é uma daquelas expressões populares que sempre se aplicam a preceito mesmo sem se fazer ideia nenhuma da sua origem.
creio que a expressão se refere à necessidade de cada qual se aparelhar de acordo com o que está a fazer. no caso, calçar a bota adequada para a caça da perdiz ("perdigota": diminut. de "perdiz").

segunda-feira, março 03, 2008

ende (Gz.)

"ende" é a forma que toma a preposição "em" em expressões no gerúndio, como "ende podendo", "ende fazendo bô tempo", "ende chegando a casa", etc.
como advérb., significa "ali", "lá", "onde".
"por ende": "pelo qual", "por isso"

enchente

"enchente" (subst. fem.) significa "abundância", "multidão" (fig.), "grande quantidade", "fartura", "cheia" (de um rio)

cocho

"cocho" (subst.) é o "porco", animal doméstico. também pode ser adj., significando "sujo", "imundo".
usa-se em algumas zonas do Entre-Douro-e-Minho (pronunc.: "côcho") e na Galiza (pronunc.: "cócho"), de par com a designação "porco".

esguelha

"esguelha" (subst. fem.) significa "soslaio", "obliquidade".

esgueirar

"esgueirar" (verb. a. e refl.) significa "escapar pela calada", "desaparecer", "passar sem que se dê conta".

domingo, março 02, 2008

bofe

"bofe" (subst.) significa "pulmão", "capacidade funcional respiratória" (fig.).
"com os bofes de fora" ou "botar os bofes": "estar muito cansado"

pernil

"pernil" (subst.) significa "presunto", "anca do animal",
"esticar o pernil" : "morrer".

pandorca (Pt. e Gz.)

"pandorca" (subst. fem.; tamém adjet.) é uma "mulher grosseira", "mulher de fracos modos", "mulher mal-arranjada".
ver Comentº de Ictioscópio.

larica

"larica" (subst. fem.) significa "apetite de comer", "aquela fome que se tem depois de uma boa jornada". palavra muito comum de uma e outra banda do Minho.

sábado, março 01, 2008

lazer, lezer

"lazer", "lezer" (Gz.) (subst.) significa "ócio", "descanso", "disposição para fazer algo agradável", "tempo para actividades não contratuais", "ocupação repousante, sobretudo em actividades criativas e de engenho".
graf. altern. (Gz.): "lecer".