escritas e falares da nossa língua


sexta-feira, outubro 31, 2008

candango (Br.)

"candango" (subst.; adj.) é palavra de origem africana, levada para o Brasil pelos escravos negros de fala quimbunda. por "candango" queriam significar "ruim,", "mau", "malvado", "ordinário", pelo que usavam o termo para se referirem aos donos dos engenhos de cana de açúcar onde trabalhavam.

passou a aplicar-se também ao trabalhador braçal, o servente de construção, aquele que usa mais a força que a cabeça. ouvi também dar-lhe o significado de rústico, de natural da terra, sobretudo para designar portugueses e galegos - os europeus que primeiro povoaram o Brasil e, por isso, eram os "naturais" por oposição aos imigrantes mais recentes. posteriormente, o termo "candango" passou a usar-se para designar as pessoas do norte e do nordeste que migraram ao Planalto Central para trabalhar nas obras de construção de Brasília, quase todos eles com origem remota no norte de Portugal ou na Galiza.
o contributo dos "candangos" para a construção da utopia brasiliense fez com que o termo passasse a designar correntemente os próprios habitantes de Brasília, em paralelo com a designação mais erudita "brasilienses".

quarta-feira, outubro 29, 2008

lareto (Gz.)


"lareto" (adj.) é o mesmo que "lareta", "aquele que fala demais", "falador", "aquele que nom é capaz de guardar um segredo", "língua de trapos", "indiscreto"; "intriguista"; descarado", "desavergonhado".

passou o dia, passou a romaria (Pt. e Gz.)

com esta expressão quer-se dizer que "já é tarde para voltar atrás", que "já nom é possível agir de outro modo", que um dado problema, projeto ou questão "passou à história".

terça-feira, outubro 28, 2008

fagueiro (Pt., Gz. e Br.)



"fagueiro" (adj.) significa "acariciador", "aquele que atrai com doçura e suavidade", "meigo", "agradável", "aprazível".





e agora, de Zeca Afonso, "Menino d'Oiro":

o meu menino é d'oiro
é d'oiro fino
não façam caso
que é pequenino

o meu menino é d'oiro
d'oiro fagueiro
hei-de levá-lo
no meu veleiro

venham aves do céu
pousar de mansinho
por sobre os ombros
do meu menino

venham comigo venham
que eu não vou só
levo o menino
no meu trenó

quantos sonhos ligeiros
p'ra teu sossego
menino avaro
não tenhas medo

onde fores no teu sonho
quero ir contigo
menino d'oiro
sou teu amigo

venham altas montanhas
ventos do mar
que o meu menino
nasceu p'ra amar

venham comigo venham
que eu não vou só
levo o menino
no meu trenó

estugar (Pt., Gz. e Br.)

"estugar" (verb.) significa "acelerar", "apressar", "apertar", "aligeirar"; "estimular", "incitar", "instigar".
"estugar o passo": "acelerar o passo", "andar mais depressa".

ir de cavalo pra burro

a expressão "ir de cavalo pra burro" ou "passar de cavalo pra burro" significa "ficar pior do que se está", "trocar o que se tem por cousa pior", "mudar para pior", "descer de categoria".

segunda-feira, outubro 27, 2008

estribeira (Pt., Gz. e Br.)

"estribeira" (subst. fem.) significa "estribo de montar", "estribo ou degrau do carro", "correia da qual se penduram os estribos".
expressão associada: "perder as estribeiras": perder o controle, perder a paciência, desnortear-se.

lenda de são pedro de rates

São Pedro de Rates é uma freguesia do concelho da Póvoa de Varzim (Pt.). segundo a lenda, o santo patrono, Pedro, terá sido um dos sete bispos peninsulares ordenados pelo apóstolo Tiago, que lhe teria atribuido a diocese de Braga.

segundo a lenda, Pedro curou uma princesa acometida de doença fatal. em reconhecimento do milagre, a moça não só se converteu ao cristianismo como fez voto de castidade, o que gerou a ira do pai e a inevitável sentença de morte para quem a tinha curado. avisado, o santo refugiou-se em Rates, mas foi aí descoberto e executado. sepultaram-no sob as ruínas do pequeno templo onde tudo acontecera. o templo foi desaparecendo com o tempo e com ele a memória do local da sepultura. mais tarde, de um monte próximo, o eremita São Félix, Fins ou Fiz, enxergou uma luz na escuridão. dirigiu-se a um montículo de pedras de onde provinha a luz, removeu-as e debaixo delas atopou o corpo de Pedro.

teria alguma razão o irado pai da princesa, pois que Rates estava ligada ao culto da fertilidade e não da castidade. para conseguirem alcançar, as mulheres estéreis tinham por costume sentar-se numa pedra furada que havia por ali. e no templo românico de Rates ainda hoje se vê uma serpente esculpida numa das pedras resgatada do templo pagão anterior.
o culto do santo manteve a antiga tradição. há por lá mulheres grávidas que ainda se abstêm de toda e qualquer atividade no dia 26 de abril, o dia do santo. e entre o vivo até às fêmeas prenhas não convém que façam esforços nesse dia.

lenda do galo de Barcelos

esta lenda é uma das muitas do ciclo jacobeu ouvidas na região litoral a norte do rio Douro, como Matosinhos, S. Pedro de Rates, Barcelos e S. Bartolomeu do Mar. do seu conteúdo extrai-se um miolo composto de galo ou galego (celta), peregrinação, cruzamento ou encruzilhada (cruz, cruzes), morte e ressurreição (conteúdo iniciático). em suma: o peregrino faz a sua caminhada interior, debate-se com as encruzilhadas, sobressaltos e perigos do caminho, morre para o seu passado e ressuscita sob uma personalidade renovada.
no plano da etnografia e do artesanato, o "galo" de Barcelos é um galo preto, como aquele que é levado em oferenda a S. Bartolomeu do Mar. simplesmente, de tão ornamentado para os deuses, parece um galo multicolorido. mas se repararmos nos intervalos das ornamentações, lá está o negrume das suas penas. o galo preto está muito associado à bruxaria, que é como quem diz ao paganismo.

pois reza a lenda que numa albergaria ou pousada pelas bandas de Barcelos (uma das muitas encruzilhadas de caminhos para Santiago), onde se juntava gente de muita e desvairada condição, um peregrino que seguia o Caminho de Compostela viu-se acusado de um grave crime. apesar de protestar a sua inocência, as provas convergiam todas para a sua culpa, tendo sido condenado à morte por enforcamento. no dia da execução fazia-se uma festa em redor de um vistoso galo assado. no momento de lhe porem a corda em volta do pescoço, o peregrino gritou: assim eu esteja inocente como esse galo cantará três vezes! e o ordálio cumpriu-se, o galo morto e assado cantou três vezes e o peregrino pôde seguir em paz o seu caminho.
esta lenda (iniciática) é afim de outras que se ouvem em diversos pontos dos caminhos (geográficos) que conduzem a Santiago de Compostela. uma versão desta lenda é a de Santo Domingo de la Calzada.

domingo, outubro 26, 2008

parolo (Pt. e Br.)

"parolo" (subst. e adj.) significa "rústico", "trengo", "saloio", ""patêgo", pessoa que não tem hábitos, gostos, refinamentos ou maneiras urbanas"; "novo rico" (fig.). etimologicamente, é "o que fala muito". de "parola", palavra, voz articulada.

sábado, outubro 25, 2008

esperto

"esperto" (adj.) é aquele que está "desperto", "ativo". o mesmo que "astuto", "diligente", "hábil", "vivaço".

há tamém o "chico esperto", "o maior", aquela personagem irritante que se julga mais esperto que o outros e que procura de modo fácil e rápido, e muitas vezes irregular, atingir aquilo que aos outros leva tempo, trabalho e canseira.

degredo (Pt., Gz. e Br.)

do lat. decretu ("decreto"), degredo é a pena de desterro ou expatriação imposta por decreto judicial ou por pessoa ou autoridade com poder ou competência para "decretar". pode advir em castigo de um crime ou por medida de segurança do rei, do príncipe ou do estado. é tamém o lugar onde é cumprido o degredo.

a crer nos que acham que fomos postos neste mundo por castigo de deus, nós somos "os degredados filhos de Eva".

sexta-feira, outubro 24, 2008

andar de candeias às avessas

dizer que duas pessoas andam "de candeias às avessas" significa que andam de afetos desencontrados, que estão de mal, desentendidos, zangados, ou mal-entendidos. mas a verdade é que, nestas cousas de afetos, "nom há mal que sempre dure nem bem que se não acabe".

mais velho que andar a pé (Gz.)

a expressão significa "muito velho", "muito antigo", "antiquissimo". é ainda mais expressiva que a outra, equivalente: "mais velho que a sé de Braga". porque muito antes de haver sé, já os de Braga andavam a pé.

passar-lhe a mão pelo pêlo

a expressão significa "acariciar, ninar, fazer festas, mariquices ou manifestações de apreço por alguém com intenção de lhe sacar favores ou fidelidades". cousa de pouca dura, é um estratagema muito usado na política e nos negócios. (o da foto já nom funciona tão bem).

quinta-feira, outubro 23, 2008

sabe mais o demo por velho que por demo (Gz.)


ou seja, o diabo sabe mais por ser velho que por ser diabo. com esta expressão pretende-se dizer que o saber mais depressa vem da experiência que do título, fama ou condição.

quarta-feira, outubro 22, 2008

garula (Gz.)

"garula" (subst. fem.) significa "conversa inútil", "paleio de chacha" (cal.), "palavreado"; "verborreia"; "algazarra"; "reunião de gente para comer e beber"; ""vozearia de pássaros ou pessoas reunidas"; "as verduras que fazem a parte principal do caldo".

a quem deus nom lhe dá filhinhos, o demo lhe caga sobrinhos (Gz.)

este inimitável refrão casa-se com um outro, tamém galego: "gasta em festas e vinho o que tenhas que deixar ós sobrinhos".
querem ambos chamar a atenção para a praga de sobrinhos que se abate sobre quem morra solteiro, de preferência rico.

dá deus as nozes a quem não tem dentes

a expressão significa que não falta quem tenha oportunidades que não sabe ou não tem condições de aproveitar.
apesar de tudo, é uma expressão estranha, já que até os do paleolítico sabiam partir as nozes antes de lhes comer o miolo.

certo é que a expressão se aplica, por exemplo, tanto ao papa a quem ofereceram um ferrari, como ao velho decrépito que casou com mulher nova.

e, já agora, a inversa tamém é verdadeira: dá deus os dentes a quem não tem nozes. simplesmente, apesar de verdadeira, esta última proposição não faz refrão.

bom, é claro que, como dizem os amigos brasileiros, "deus dá as nozes, mas não as quebra".

segunda-feira, outubro 20, 2008

o que tu sabes já a mim me esqueceu

oiço esta expressão em certos meios populares, no sentido de "ainda tens muito que aprender", "para saberes o que eu sei ainda tens muito que andar", "estás muito verde", "ainda só sabes o básico".

às vezes, a expressão completa fica assim: "o que tu sabes já a mim me esqueceu há muito".

o lobo mau

o "lobo mau" é apresentado como o lado sombrio do simbolismo do lobo. ligado às florestas, como uma das manifestações dos espíritos que as habitam, costuma ser representado como o guardião do tempo, de tudo o que existe para além da vida.

por isso, um dos avatares de Zeus é Lykaios, o lobo, aquele que vê para além do dia e da noite, da vida e da morte, mais sábio que a multidão dos mortais.
e de lykaios derivou "liceu", palavra associada às artes, ao ensino e à aprendizagem pós-básica.
a goela do lobo é a noite devoradora que engole o tempo e, com ele, todas as coisas que a Avozinha, a Grande Mãe Natureza, vai gerando e parindo, umas atrás das outras. devassa e fértil, ela é a parceira de Cronos, com quem partilha o destino de gerar e comer as próprias crias, as Grandes Filhas, ou netas da Criação.
como símbolo, o Lobo Mau é de uma prodigiosa ambivalência: todas as crianças se amedrontam e fascinam com o Lobo Mau. por detrás do lado sombrio e mortal do seu aspeto feroz, esconde-se a irresistível sedução dos impulsos e instintos que conduzem à vida. nom há Capuchinho Vermelho que resista.

domingo, outubro 19, 2008

quanto maior é a nau maior é a tormenta (Pt., Gz. e Br.)

expressão própria de povo que faz ou fez do mar a sua estrada habitual, significa que quanto mais rico ou mais elevado se está na escala social mais problemas se tem pra gerir ambas as cousas.
aparece tamém sob a forma "grande nau grande tormenta".

porém, ao invés da expressão afim "quanto mais alto se sobe maior é o tombo", não exprime nenhum preconceito negativo, pejorativo ou pessimista em relação a ser-se mais rico ou mais diferenciado.

terça-feira, outubro 14, 2008

sucata (Pt., Gz. e Br.)

"sucata" (subst. fem.) significa "ferro-velho", "velharia";
"cemitério de automóveis".
quanto aos carros, hoje a tendência é para os prensar e transformar em bonitos cubos, que imitam certas esculturas que povoam rotundas e praças. porque em cada era os seus mitos.
ao contrário dos lixos, que nom tenhem qualquer valor comercial, a sucata é um negócio rentável.

Estraviz regista o termo e com o mesmo significado.

sexta-feira, outubro 10, 2008

apalpar

"apalpar" (verb.) significa "conhecer com as mãos", "tentear com o tato"; "tatear", "sondar" (fig.). faz-se para completar a vista ou para suprir a falta dela.
dá-nos conhecimento da forma, dimensão, volume, textura, temperatura e conteúdo da coisa apalpada. no plano das relações humanas, tanto pode constituir um abuso ou grosseria como ser uma manifestação de prazer, de carinho, de ternura, de amor ou de paixão.

convém juntar-lhe um cheirinho de malícia.
...mas apalpar alma de gente quem se atrever que tente.


expressões associadas:
"apalpar o terreno" - tentear um caminho; sondar uma sensibilidade, uma disposição, ou recetividade de alguém para conosco.
"sentir-se apalpado" - sentir-se apertado, apanhado, constrangido, pressionado ou condicionado.
"andar às apalpadelas" - andar sem referências seguras, progredir cautelosamente, por tentativas.


[imagem]

quinta-feira, outubro 09, 2008

levar com um gato morto na testa até ele miar


é o que merece quem nos incomoda com a sua estupidez ou quem faz uma asneira imperdoável.



sopas de cavalo cansado

"sopas de cavalo cansado" era uma mistura de vinho, pão e açúcar que se dava às crianças do campo à guisa de pequeno almoço. a intenção era fornecer-lhes uma bebida tónica e energética que enganasse a pobreza.


o mesmo que "sopas de burro cansado" (ver Comentº de LQB)

[imagem]

as paredes têm ouvidos

com esta expressão costuma-se querer dizer que alguém pode ouvir a conversa, pelo que todo o cuidado com os segredos será pouco. o pior é que muitas vezes os ouvidos estão mais perto de nós do que a parede




quarta-feira, outubro 08, 2008

segredo (Pt., Gz. e Br.)

"segredo" (subst.) é uma coisa, assunto ou matéria de melindre e de sigilo, que só se conta aos melhores amigos - que, por sua vez, só a contam aos melhores amigos deles. polo que o segredo se vai desfazendo por si mesmo, sem grande prejuizo.
mas alguns segredos são valiosos e, se entram em ouvidos que ouvem mas nom falam, dão de comer à chantagem.

polo sim polo não, melhor é nom deixar segredos à solta por aí. e melhor ainda é nom ter segredos.




imagem: cartoonices.wordpress.com

tortilha à francesa

certo dia, em viagem de León pra Ponferrada, coa barriga a doer de tanto dar horas, parámos para almoço. entre quem me acompanhava havia uma que sabia tudo e nom precisava da opinião dos outros. já estava a ficar farto: cousa que ela achasse que sabia, embicava para ali.
bom, sentámo-nos à mesa e trouxeram o cardápio: merluza, ternera, cordero, enfim, aquelas cousas que são habituais de servir nos restaurantes de lá. a tal sumidade, senhoreca fina, topou uma iguaria no menu: "tortilla a la francesa". naquela cabecinha fumegava já uma cheirosa delícia gastronómica, digna do melhor gourmet.
inda tentei a minha sorte: - não quer provar outra coisa? ... talvez...
que não, tortilla a la francesa estava muito bem. era o que lhe estava mesmo a apetecer.
passado aquele tempo entre pedir e comer, chegou o garzón. e depositou no centro do prato da senhora uma apetitosa omelete de ovo, sem mais nada.
de cara espantada, perguntou-me:
- mas eu mandei vir uma "tortilha à francesa"...
- aí a tem... e que bom aspeto!...

mamá, que me trai da feira? (Gz.)


esta expressão é um achado:
"- mamá, que me traz da feira? - o caminho para andar, meu filho".





imagem: Evening Glory, John Langley

ensinar o pai a fazer filhos (Pt. e Gz.)




esta expressão (eufemística?) é equivalente a "ensinar o padre-nosso ao vigário". significa que alguém quer dar lições a quem sabe mais que ele.
já por cá tenho ouvido uma versão mais vernácula.

perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe (Pt., Gz. e Br.)


expressão muito oportuna nos tempos que correm, em que prometem saúde e anos vida por vivê-la desenxabida.

terça-feira, outubro 07, 2008

nom se ganhou Zamora numa hora (Gz.)

esta expressão, que se encontra noutros lugares e idiomas da península, é equivalente de "Roma e Pavia não se fizeram num dia". significam ambas que "tudo leva o seu tempo".

segunda-feira, outubro 06, 2008

vieiro (Gz.)



"vieiro" (subst.) é o mesmo que "caminho, "senda", "sendeiro", "vereda", "carreiro", "via", "sulco" (agricult.). o mesmo que "vieira" (topon.).

vozes de burro não chegam ao céu

a expressão "vozes de burro não chegam ao céu" costuma aplicar-se a quem nos deseja mal ou profere imprecações ou maldições contra nós, ou a quem diz alguma cousa infundada ou gratuita com intenção de nos ofender ou melindrar.
expressões alternativas: "as oraçóns do burro nom chegam ao céu" (Gz.); "palavras de burro nom chegam ao céu" (Gz.).

assulagar ou sulagar (Gz.)

"assulagar" ou "sulagar" (verb.) significa "pôr debaixo de água", "inundar", "submergir", "mergulhar", "alagar", "chover muito".

marinheiro galego, labrego do azul

gosto deste poema, escrito por um home da terra e do mar:


home de mar, marinheiro;
labrego do azul.
home sem tempo, poeta.

vieiros infindos os teus
que levam a inconcruir as cousas,
...sonhos os teus absolutos.

viver assulagado o teu
dum azul infindo e de
saudade.

lembrança e esp'rança
principio e fim das tuas
cousas,
... sonhos os teus absolutos.

home de mar, marinheiro;
labrego do azul.
home sem tempo, poeta.


(Alfredo Conde, poeta galego)

//poema revertido à norma AGAL//

domingo, outubro 05, 2008

cando o cám ladra vem gente...




...pelo que, ladrando o cão,
"ou vem gente
ou o cám mente". (Gz.)

essa é farinha de outro saco (Pt., Gz. e Br.)

a expressão "ser farinha de outro saco" significa que se trata de outro assunto, outra questão, de algo que nom vem ao caso em apreço. ou, então, que é artigo de outra categoria, que se trata de outra coisa, de outra realidade, que uma cousa nom é o mesmo que a outra.


a expressão contrária, "ser farinha do mesmo saco", significa que duas alternativas são a mesma coisa, que não há diferença entre elas, venha o diabo e escolha.

esse grao nom to [cho] moeu o teu moinho (Gz.)


com esta expressão, de fina ironia, quer-se dizer que uma ideia ou teoria está acima da cultura ou capacidade de quem a expõe.

cala a boca e nom digas nada, que as tuas verdades som parentes das minhas mentiras (Gz.)



com este dizer se insinua, na riquíssima expressividade dos galegos, que quem fala é um rematado mentiroso.
que "as tuas verdades são como as minhas mentiras" tamém já o ouvi da banda de cá.

sábado, outubro 04, 2008

juntar-se a fome com a vontade de comer




a expressão "juntar-se a fome co'a vontade de comer", ou "juntar-se a fame à gana de comer " (Gz.) significa juntar-se dois desejos, interesses ou forças que se potenciam ou completam.

alaba-te coitelo, que a vender- te [-che] levo (Gz.)

este dito ou expressão é irmão gémeo daqueles outros: "gaba-te cesto, que amanhá vais à vindima", "alaba-te [-che] boi, que a vender te [che] levam (Gz.), "alaba-te [-che] mantelo, que a vender te [che] levo" (Gz.) e "alaba-te [-che] cám, que te [che] vais casar 'manhã" (Gz.).
ou me engano muito ou querem todos dizer que julgue-se um home o que se julgar, segue o caminho que tiver de andar.