o caralho é a palavra mais galego-portuguesa. vulgar, gratuita, com ou sem sentido, pensada ou compulsiva, amiga ou ofensiva, pornográfica ou erótica, o caralho ocupa mais de um quinto do falar de portugueses e galegos. não há palavra mais ampla, mais etérea, mais inútil nem mais oportuna.
mesmo quando é substituída pelo carago, o caramba, o caraças, o catrino, ela está lá: é insubstituível.
não pode é encolher com diminutivos. o caralhinho é a negação completa do caralho.
se uma coisa é grande, é grande como o caralho. se pesa, é pesada como o caralho. se está longe ou em sítio incerto, está em casa do caralho. se me chateio com alguém, mando esse alguém pró caralho. se me apetece explodir, grito: - caralho!
implica uma certa intimidade, pois não se diz caralho ao rei nem à princesa. nem junto do ministro nem ao pé do presidente. nem perto de senhoras nem ao pé de cavalheiros. só entre amigos. dizer caralho significa que estamos à vontade, em casa, eu contigo, tu comigo, entre nós.
já era tempo de entrar na literatura, caralho!
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"caralho" (subst.) significa "o órgão sexual masculino", a peça de cerâmica característica das Caldas da Rainha, o doce do São Gonçalinho de Amarante. é também alguém de quem se tem pouca conta: "aquele caralho...", "saíste-me um caralho". nos poucos dicionários que lhe dão entrada, o caralho sai capado, eunuco: "pénis", "membro viril". apenas. e é pena. porque um caralho só é caralho com eles no sítio.