escritas e falares da nossa língua


quarta-feira, janeiro 30, 2008

as cores na nossa língua

a cor é um dado passível de ser compartilhado pelas pessoas, embora sem garantia de que cada pessoa veja exactamente o mesmo quando fala de uma dada côr. a cor é o efeito que os vários comprimentos de onda do espectro electromagnético luminoso exercem sobre os corpúsculos sensitivos da retina a que chamamos cones. há três tipos de cones, tantos quantos os três comprimentos de onda do espectro visível: o azul, o verde e o vermelho, tal como na síntese da cor nos aparelhos de tevê e nos computadores. nos daltónicos há apenas dois tipos de cones: o azul e um cone fusional verde-vermelho, que dá a ideia do amarelo. por isso, só vêem o azul, o amarelo e as gradações de cinzentos.
a profusão de cores com que a Indústria invadiu o nosso quotidiano torna praticamente inviável a atribuição de um nome a cada uma delas. por isso, temos muitas vezes que nos contentar com um número ou um código em lugar de uma palavra.

Amarelo
Anil - espécie de azul vivo
Azul

Beige - do franc. "Beige": "cor de lã natural"

Bordeaux - o mesmo que "Grenat". é a "côr-de-vinho", seja o de Bordeaux, seja o de Granada ou outro do mesmo tipo

Branco
Castanho (Pt e Gz.) - graf. altern. (Gz.): "castaño"
Cinzento - graf. altern. (Gz.): "Cincento"

Côr (Pt., Gz. e Br.) - o efeito produzido pela reflexão da luz nos objectos

Côr de burro quando foge - de côr indistinta ou incerta
Côr-de-vinho - ver "Bordeaux" e "Grenat"

Encarnado - termo lisboeta para "Vermelho"
Grenat - ver "Bordeaux"
Laranja - ou "Cor-de-laranja". graf. altern. (Gz.): "Laranxa"
Marelo (Pt., Gz. e Br.)
Marrom (Br.) - castanho (do franc. "Marron")
Negro

Preto - o mesmo que "Negro". nota: "preto" com e aberto tem na Galiza o significado de "perto", "próximo de"

Púrpura - variedade de vermelho, ao que parece usada pela primeira vez em Tiro, pelo menos para fins comerciais. da cor da sotaina dos cardeais e das antigas vestes régias.

Rosa - ou "Côr-de-rosa"

Roxo - o mesmo que "Violeta". na Galiza pode significar "Vermelho", por influência do castelhano "Rojo"

Verde
Vermelho - graf. altern. (Gz.): "Vermello"


sábado, janeiro 19, 2008

manhã, amanhã

"manhã" (adv.) é a forma nortenha (Norte de Portugal/Galiza) de "amanhã", sendo "amanhã" "o dia a seguir a hoje" e, também, "o futuro", "o porvir". graf. altern. (Gz.): "mañán".

a diferenciação com "manhã" (subst. fem.), que significa "a parte do dia do amanhecer ao meio-dia", faz-se pronunciando sem nasalação: "manhá". graf. altern. (Gz.): "mañá".

hoje

"hoje" (adv.) significa "este dia", "no dia presente", "o tempo actual", "os tempos de agora", "a actualidade".
graf. altern. (Gz.): "hoxe".

onte, ontem

"onte" (adv.) é a forma de "ontem" no Norte de Portugal e na Galiza. significa "o dia anterior a hoje", "há um dia atrás" e, também, "há pouco tempo atrás" e "no passado".
tem os derivados "antonte" /"anteontem" e "tresantonte", que significam, respectivamente, "há dois dias atrás" e "há três dias atrás".
e tem, ainda (Gz.), "noutronte", "nontronte" (ver Comentº de Homedareia/Ictioscópio) e "nantronte" (ver Comentº de Juan).

sexta-feira, janeiro 18, 2008

apanhar

"apanhar" (verb.) significa "reunir o que está espalhado", "recolher do chão com as mãos", "caçar", "pegar"; "surpreender alguém" (exºs: "apanhei-te!"; "apanhar em flagrante"), "provar a culpa"; "contrair [uma doença]"; "sofrer [um castigo]".
graf. altern. (Gz.): "apañar".

quinta-feira, janeiro 17, 2008

andaço

"andaço" (subst.) significa "doença que anda [de um lado para outro]", "doença que se espalha", "epidemia de pequena importância ou expressão". graf. altern. (Gz.): "andazo".

andaina (Gz.)

"andaina" (subst. fem.) significa "caminhada", "caminho longo".

quarta-feira, janeiro 16, 2008

eido, eidos

"eido" (subst.) é um "sítio", "quintal ou terreno que rodeia a casa", "lugar (rural) onde crescemos e vivemos".
no plural, "eidos" (Gz.), tem o significado de "terra que nos viu nascer", "terra natal"

domingo, janeiro 06, 2008

fingidor

"fingidor" (adj.) é "o que finge", "o que imita, ou arremeda, ou simula", "aquele que não cria ou não sente o que faz", "aquele que imita a criação de outrem". do ponto de vista poético, pode ser "aquele que cria ou recria o que já está criado (pelo Criador)", "aquele que imita o processo da Criação".

como disse Fernando Pessoa,

"o poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente".


graf. altern. (Gz.): "finxidor"

fingir (Gz., Pt. e Br.)

"fingir" (verb.) significa "fazer com que uma coisa pareça o que não é", "fazer com que pareçamos quem ou o que não somos", "imitar", "fazer parecer outra coisa", "simular", "arremedar", "tomar ou dar a aparência de".
graf. altern. (Gz.): "finxir".
aquele que finge é o "fingidor".

sexta-feira, janeiro 04, 2008

mentireiro

"mentireiro" (adject.) é o mesmo que "mentiroso".
gosto daquela canção popular galega, que me fala de olhos, mentiras, traições e verdades:

"olhos verdes som traidores
os azules mentireiros,
os negros e acastanhados
som firmes e verdadeiros".

como os meus.

mentira

"mentira" (subst. fem.) é uma construção lógica, racional, destinada a ocultar a realidade ou a fazer-se passar por ela. "falsidade", "embuste".

verdade verdadinha, há mentiras piedosas porque a verdade nem sempre é boa de engolir.
e a melhor mentira é a que parece verdade.
é a mentira, e não a verdade, a que conquista as mulheres.
mas como uma mentira depressa exige sete ou oito, "apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo". ou, como eu encontrei na net sem autoria, "seguimos a mentira, e ela nos leva à verdade".


"para a mentira ser segura,
e atingir profundidade
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade".
(António Aleixo)


aquele que diz mentiras é "mentiroso" ou "mentireiro"

parabenizar

"parabenizar" (verb.) significa "dar os parabéns", "felicitar", "congratular". é um verbo especialmente usado no Brasil, embora já o tenha ouvido na Galiza e o tenha visto utilizar em blogues galegos.
aproveito a ocasião para parabenizar todos os leitores nascidos no mês de Janeiro.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

naco, anaco

"naco" ou "anaco" (subst.) significa "bocado", "pedaço", "porção (de alguma coisa)".
trata-se de uma palavra bastante ouvida no Norte de Portugal e na Galiza.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

unidade e diversidade: a riqueza de uma Língua

tenho visto por aí certos esforços em demonstrar que entre o Português de Portugal e o Português do Brasil, assim como entre a Fala portuguesa e a Fala galega há um montão de palavras diferentes. daí a tirar conclusões disparatadas vai um abrir e fechar de olhos.
em primeiro lugar, em nenhum desses países existe o que possa chamar-se um cardápio fixo de palavras. as variações regionais são muitas, palavras diferentes para as mesmas coisas, sotaques típicos desta ou daquela região. e nada disso prova que a Língua mude ao virar da esquina. todas as palavras diferentes de uma região para a outra são forjadas na mesma lógica geral da Língua, são palavras diferentes porque são ditas por gente diferente. mas toda essa gente diferente partilha o mesmo património genético da Língua comum. palavras há, e não são poucas, que já foram ditas por todos, embora hoje só alguns de nós as tenhamos preservado.
o que nos distancia não são as 10, 100 ou 1000 palavras diferentes que usamos no dia-a-dia. o que nos distancia é a ignorância e a falta de contacto. dois familiares próximos que não se encontram há muitos anos podem ver-se uns aos outros como estranhos, simplesmente porque não contactam uns com os outros.
a diversidade faz parte da riqueza e do património da Língua. se nos dermos a conhecer uns aos outros no quotidiano, é difícil vermo-nos uns aos outros como estranhos, tal é a semelhança da nossa Fala comum.
perdemos por estar habituados à uniformidade medíocre do nosso cantinho, do nosso eido, da nossa freguesia, da nossa região, do nosso País. não sabemos que em muitos países de língua internacional, como o Inglês, o Alemão, o Italiano, o Francês, o Russo, o Chinês e assim por diante, há variações regionais maiores que as possíveis diferenças entre os Falares da Galiza, do Brasil e de Portugal.
é certo que muito poucos portugueses sabem que a Fala galega existe, é certo que a muitos galegos lhes pesa a família lusitana, é certo que a alguns brasileiros lhes dá mais alegria as diferenças que as semelhanças. é certo que a uns e a outros lhes falta quem os junte. o pior problema é a política, e talvez a falta de prazer e de prestígio em pertencer à família a que se pertence. mas a família é a mesma, não podemos mudá-la.
essa a razão de ser deste blogue: pôr-nos em contacto uns com os outros, dar-nos a conhecer uns aos outros. fazer-nos ver que as palavras diferentes só são diferentes porque não falamos uns com os outros.
quantas vezes as tais palavras diferentes podiam ter sido inventadas por nós, tal é a lógica comum que as engendrou.
e quanto mais palavras formos capazes de partilhar uns com os outros maior é a riqueza da nossa Língua comum.

terça-feira, janeiro 01, 2008

menção honrosa

sem falsa modéstia, é bom quando falam da gente. melhor ainda quando falam bem. fazem-nos sentir que estamos no caminho certo.